As abelhas e o homem
Antes do surgimento do homem na Terra, as abelhas já existiam. A abelha produtora de mel foi importante desde os primórdios da humanidade, sendo símbolo de defesa e de riqueza. Ela foi bem representada entre os egípcios, gregos e romanos. No Egito, ainda há a dança chamada "Passo da Abelha". Na Grécia elas foram tema de escritos do sábio Aristóteles e também eram valorizadas no comércio. As antigas moedas gregas, numa das faces, estampavam uma abelha como símbolo de riqueza. Os romanos as veneravam; elas eram símbolo de admiração e de defesa de seu território. Por muito tempo, na França, era grande honra receber uma medalha de ouro estampando uma colméia povoada de abelhas. Luís XII, muitas vezes, usava seu pomposo manto real todo bordado de abelhas douradas como sinal de mansidão e bondade. Hoje as abelhas continuam sendo produtoras de alimentos naturais essenciais para a humanidade. Além de produtora de alimentos e, juntamente com outras espécies de abelhas, ser o principal agente polinizador das flores, aumentando a produção de frutos e sementes, a abelha é uma educadora. Todas as pessoas, de ambos os sexos, desde crianças até os anciões devem aprender a se organizar e a trabalhar em cooperativismo, como as abelhas o fazem.
Apicultura no Brasil - por Warwick Estevam Kerr
No livro "Manual de Apicultura" (CAMARGO, 1972), no prefácio que fiz, informei que a cultura das abelhas no Brasil tem cinco fases distintas: a primeira, anterior a 1840, em que só se cultivavam Meliponíneos (abelhas-sem-ferrão); no sul as mandaçaias, mandaguaris, tuiuvas, jatais, manduris e guarupus; no nordeste a uruçú, a jandaíra e a canudo; no norte a uruçú, a jandaíra, a uruçú-boca-de-renda e algumas outras.
A segunda fase começa em 1840, com a introdução no Brasil de Apis mellifera mellifera, que se tornou a nossa abelha "europa", ou "abelha-do-reino". De 1845 a 1880, com a migração dos alemães, várias colônias dessa abelha foram trazidas da Alemanha e teve início a apicultura nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Uma terceira fase tem início ao redor de 1940, com os primeiros movimentos associativos: em início a comercialização. A quarta fase vai de 1950 até 1970. Nestes 20 anos um grupo de pesquisadores de São Paulo, Curitiba, Piracicaba, Rio Claro, Ribeirão Preto, Araraquara, Florianópolis, Taquari e Pindamonhangaba, põe o Brasil no mapa mundial das investigações científicas apícolas, constituindo-se atualmente num dos maiores grupos de cientistas especializados neste campo no mundo. Nesta fase é introduzida a abelha africana (Apis mellifera scutellata) para fins de cruzamentos que aliem suas boas propriedades às boas propriedades das melhores linhagens italianas. Um acidente durante a manipulação dessas abelhas africanas provocou a enxameação de 26 colmeias, que iniciaram a africanização da apicultura brasileira. Seu efeito foi dramático entre 1963 a 1967. Todavia, o grupo de pesquisa com a colaboração de apicultores, conseguiu entre 1965 e 1970 resolver o problema, pelo menos do ponto de vista do retorno a produção. Até 1970 foram realizadas as Semanas de Apicultura e Genética de Abelhas de números 1, 2 e 3.
O problema da abelha africana e a aliança entre apicultores e cientistas indicam que se inaugurou uma quinta fase na Apicultura Brasileira, de 1970 para cá: é a fase em que juntos, cientistas, apicultores e governo, de mãos dadas, passam a resolver vários problemas da nossa apicultura. Aqui, além dos grupos mencionados, incorporam-se, também, Viçosa, Curitiba, Recife, Manaus, Londrina, Barretos e Jabuticabal. No momento, vivendo plenamente esta quinta fase, apicultores e cientistas têm em suas mãos alguns problemas bastante grandes: um é a extrema agressividade que ainda caracteriza a abelha do norte e nordeste brasileiros e a nova invasão da cana-de-açúcar, devido ao Pró-Álcool e consequente produção de mel escuro.
O melhor histórico que conhecemos da Apicultura Brasileira é o feito por NOGUEIRA NETO, em 1972. Examinando documentos científicos, conclui ele que quem introduziu Apis mellifera no Brasil foi o Padre ANTONIO CARNEIRO AURELIANO, com a colaboração secundária de PAULO BARBOSA e SEBASTIÃO CLODOVIL DE SIQUEIRA E MELLO, em março de 1839, proveniente do Porto, Portugal. Em 1845, afirma Paulo Nogueira Neto, os colonizadores alemães trouxeram consigo raças de Apis mellifera mellifera da Alemanha, introduzindo-as no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Em 1870 a 1880, HANEMANN &. SHENCK, HANEMANN & BRUNET trouxeram as primeiras abelhas italianas (Apis mellifera ligustica) para o sul do Brasil. Ainda segundo NOGUEIRA NETO, BRUNET recebeu duas colônias de abelhas francesas e duas colônias de abelhas italianas e as introduziu em São Bento das Lages (Bahia). NOGUEIRA NETO também concorda que de 1970 para cá, é que se iniciou, verdadeiramente, a fase cientifica.