Polinização

Polinização é a transferência dos grãos de pólen das anteras (parte masculina) para o estigma (parte feminina) das flores, possibilitando a fecundação da flor e posterior desenvolvimento do fruto. Para compreendermos melhor a interação planta - abelha, é necessário conhecer as partes e funções da flor. Numa flor típica, encontramos peças que recebem os nomes de cálice, corola, nectário, gineceu e androceu.
O cálice é formado por sépalas, é a parte da flor normalmente verde. Constitui a base da flor.
corola é formada por pétalas, que são coloridas. Essas duas partes da flor, o cálice e a corola, têm função atrativa e ornamental de grande importância para atrair as abelhas.
nectário secreta um líquido açucarado chamado néctar. As abelhas coletam o néctar, desidratam-no na colmeia e o transformam em mel.
O androceu é o órgão masculino da flor, composto pelos estames que são formados pelo filete, conectivo e antera. Na antera são produzidos os grãos de pólen que as abelhas coletam para sua alimentação, sendo sua principal fonte protéica.
O gineceu é o órgão feminino da flor, composto pelos pistilos, que são formados pelo estigma, estilete e ovário. No interior do ovário estão os óvulos, dos quais se originarão as sementes. 
Existem dois tipos de polinização: a autopolinização e a polinização cruzada. A autopolinização é a transferência dos grãos de pólen da antera de uma flor para o estigma da mesma flor ou de uma outra flor do mesmo pé. Neste último caso, a autopolinização também é chamada de polinização direta ou autogamia. 
polinização cruzada é a transferência dos grãos de pólen da antera de uma flor para o estigma de outra flor da mesma espécie, mas de pés diferentes. Neste caso, a polinização cruzada pode ser chamada também de alogamia. Na natureza, esse tipo de polinização é o mais vantajoso, já que possibilita a formação de novas combinações genéticas que favorecem a formação de sementes, originando novas plantas, mais vigorosas e produtivas. Para que isso ocorra, as plantas desenvolvem alguns mecanismos de defesa, como, por exemplo:

Diante de alguns mecanismos de defesa que as plantas possuem para evitar a autopolinização, existem vários agentes polinizadores que favorecem a polinização cruzada, como o vento, os animais, a água e os insetos. Dentre todos, os insetos são os mais importantes, principalmente as abelhas, que desenvolveram na sua evolução mecanismos apropriados para se tornar excelentes polinizadores, como pêlos em todo o corpo, que favorecem o transporte dos grãos de pólen, e o seu eficiente sistema de comunicação, que permite a uma abelha campeira indicar rapidamente a todas as outras abelhas a localização de uma florada.
As plantas, por sua vez, para garantir a perpetuação da espécie, também desenvolveram mecanismos de atração das abelhas, como:

  1. Cores: as abelhas diferenciam bem a cor amarela, verde, azul e violeta, e são atraídas por elas.
  2. Aromas: as abelhas são muito sensíveis ao cheiro e facilmente treinadas a visitar flores com odores específicos. Costuma-se aconselhar os apicultores a macerarem algumas flores de grandes floradas e misturar em xarope, que será oferecido às abelhas em alimentadores próprios, com o objetivo de treiná-las a associar aquele cheiro a determinada fonte de alimento.
  3. Formas: a forma da flor ajuda a destacá-la na folhagem e também favorece a aproximação da abelha.
  4. Néctar: é o maior atrativo da abelha. Localiza-se nos nectários, que podem ser florais e extraflorais. Estes são encontrados no caule, folha, pecíolos etc., e aqueles no interior da flor, dentro da corola, na base do ovário, para atrair as abelhas e facilitar a polinização das flores. A secreção de néctar dentro da flor inicia-se na hora da abertura da flor e cessa logo após a fertilização.

Resultados da polinização pelas abelhas

Vários pesquisadores conseguiram excelentes resultados utilizando abelhas como polinizadores, como mostra a tabela abaixo. Obtiveram não só maior quantidade de frutos como melhor qualidade. Colocando abelhas em pomares de laranja, por exemplo, conseguiu-se um aumento de até 36% de produção, enquanto em macieiras, além de considerável aumento na produção, foi provado que houve maior peso por unidade e melhor formato das frutas.

Aumento de produtividade de culturas com a polinização pelas abelhas

Nome
comum
Aumento de
produtividade (%)
Abóbora 76,9
Café 39,2
Cebola 89,3
Maça 75,0-95,0
Pêssego 94,0
Laranja 15,5-36,3

Alguns fatores afetam a influência das abelhas na polinização de flores e demais culturas. O número de colmeias é um deles. Após vários experimentas, os pesquisadores chegaram à conclusão de que aproximadamente três colônias por hectare, em culturas de espaçamentos maiores, e cinco colônias por hectare, em culturas com espaçamentos reduzidos, é a relação ideal para uma polinização eficaz. Outro fator que afeta a polinização por abelhas é a distância do apiário à cultura: as abelhas podem procurar por néctar e pólen até cerca de 3 quilômetros da colônia. Porém, quanto mais próximo o apiário estiver da fonte a ser polinizada, melhor, pois o número de visitas que a flor recebe será maior, aumentando a possibilidade da polinização. Finalmente, o terceiro fator a interagir na polinização é a preparação das colônias, que devem estar bem povoadas. Alguns autores, com base na experiência de apicultores de diversas regiões, aconselham ter, no mínimo, um ninho com oito favos de cria e duas melgueiras bem povoadas.

Flora apícola

Sem flores não há néctar; sem néctar não há mel; sem mel não há abelhas. Essas relações simples fazem-nos ressaltar o transcendental papel das flores na Apicultura.
Tanto é eminentemente importante esse papel na apicultura que, de atividade extremamente fácil, cômoda e econômica (em lugares ricos em flores!), transforma-se em exploração difícil, penosa e altamente antieconômica (em lugares pobres em flores). Sim, porque o mel é o alimento das próprias abelhas; é do excesso de sua produção é que tiram os homens as vantagens econômicas. Ora, se o local é inadequado para a apicultura, devido a ausência de pasto para as abelhas, elas muito mal conseguirão o indispensável para sua própria alimentação e consequentemente nada reverterão para lucro do apicultor. A flora é pois o mais importante fator de progresso de uma exploração apícola, donde o apicultor deverá ter conhecimentos relativos às condições do lugar, épocas de florescimento etc. Já falamos rapidamente sobre esse assunto ao tratarmos da Apicultura migratória. No entanto aqui procuraremos, dada a sua importância, alongar-nos um pouco mais, sem descer no entanto a detalhes por demais profundos. Ressente-se a apicultura nacional de um trabalho de cunho extensivo sobre as plantas nectaríferas e poliníferas, com dados sobre espécies, variedades, épocas de florescimento, concentração dos açúcares do néctar, coloração do pólen, métodos de propagação do vegetal etc. Há apenas trabalhos esparsos de levantamentos locais destinados a outros fins que não apícolas e algumas investidas mais arrojadas no próprio terreno da apicultura (Érico Amaral - Estudos Apícolas em Leguminosas, e Nogueira Neto - Criação de Abelhas Indígenas sem Ferrão). Após uma explicação sobre a secreção do néctar e os fatores que sobre ela influem, daremos uma relação das plantas nectaríferas e poliníferas mais importantes para a apicultura.
A secreçâo do néctar - A maior parte do néctar aproveitado na apicultura brasileira provém de plantas nativas, não cultivadas ou de essências florestais. É natural que o apicultor possa melhorar o pasto para suas abelhas, através de propagação de plantas apícolas (nectaríferas ou poliníferas) nas suas terras bem como nas terras vizinhas. O néctar é a secreção açucarada, proveniente da seiva vegetal, transformada em órgãos especializados, os nectários florais; porém estes podem também ser localizados fora das flores (nectários extraflorais) como na mamona e no algodoeiro. Existe também o falso néctar, produzido pelos insetos afídios (como alguns pulgões).
Há uma infinidade de plantas que produzem néctar em elevada quantidade e, no entanto, as abelhas não as visitam. A explicação mais lógica é que a procura das plantas pelas abelhas se baseia em diversos fatores: concentração de açúcar do néctar (as abelhas preferem os néctares com elevada concentração de açúcar; assim, se há 2 plantas em floraçâo na mesma ocasião, em igualdade de outras condições as abelhas preferirão a que tem néctar mais concentrado, menos aguado ); gosto das abelhas, isto é as abelhas preferem o néctar de certas plantas ao de outras, talvez por esse néctar apresentar melhor aroma e sabor para elas; possibilidade de acesso aos nectários (é natural que, se uma planta tem néctar de elevada concentração e que poderia ser agradável às abelhas, porém os nectários são fechados ou protegidos por tecidos quaisquer, as abelhas não podem sugar o néctar e, portanto, desinteressam-se pela planta). Um exemplo disso é a papoula-de-são-francisco (sem valor para a apicultura), cujos nectários são muito fundos e fechados, donde a abelha desprovida de aparelho mandibular cortador não pode chegar até eles; no entanto um besouro, ou algumas abelhas-sem-ferrão, rói a corola, junto à base e a abelha, através do orifício, consegue sugar algum néctar. Escassez de alimentos: se há falta completa de néctares de elevada atração para as abelhas, elas recorrerão às plantas de néctares inferiores. Isto explica a importância de plantas nectaríferas ou poliníferas que, de pouco significado comercial em época de fartura, transformam-se em valiosa ajuda para diminuir a fome das abelhas em época de acentuada escassez. É o caso na nossa região (Viçosa-MG) do amor-agarradinho, da esponja e da marianeira.
Ressaltamos quatro fatores incidentes na preferência das abelhas por determinadas plantas. No entanto quase sempre o fator preponderante é a concentração de açúcar do néctar. Isto é fácil de explicar por um raciocínio muito elementar que coloca em evidência o notável instinto das abelhas: o conteúdo de açúcar do mel, como já sabemos é quase totalmente formado de glicose e frutose. Ora, esses dois açúcares são obtidos pelo desdobramento da sacarose (principal açúcar do néctar) pelas enzimas do próprio néctar ou produzidos pelas abelhas. Logicamente, quanto mais concentrado for o néctar (isto é, quanto mais sacarose contiver), mais glicose e frutose fornecerá, com a mesma quantidade de néctar. Portanto, os néctares mais concentrados permitem obter, com o mesmo trabalho (igual número de viagens para colher o néctar e mesma atividade para evaporar a água) maior quantidade de mel. Daí resulta a importância da seleção, tanto quando possível, das espécies de plantas mais ricas em néctar e dentro de uma mesma espécie das variedades que apresentam maior concentração. Esse trabalho de levantamento da concentração do néctar das plantas é feito com auxílio do refratômetro de campo, aparelho provido de lentes e de uma escala graduada que dá as leituras diretas da concentração do néctar em açúcares. O néctar pode ser recolhido diretamente nas flores ou pegando uma abelha coque o esteja recolhendo e apertando a sua boca contra o vidro do refratômetro: ela expele uma gotinha de néctar que é então medido.

Fatores que influem na secreção do néctar

Sendo um ser vivo as plantas estão fortemente sujeitas às ações de agentes diversos o que lhes afetam a fisiologia: naturalmente, como o néctar é produto de uma atividade fisiológica da planta, sua secreção deverá avariar segundo a ação desses fatores. Esses fatores agirão sobre a planta com efeitos às vezes até opostos, em dois períodos: 1.º) na pré-floração e 2.º) na florada.
O período que precede a floração (período de crescimento do vegetal) é o responsável pela boa floração; se o vegetal tem o seu período de crescimento normal, as possibilidades de boa floração são elevadas. Ora, os fatores principais para que o vegetal se prepare adequadamente para uma boa floração resumem-se em: 1) solo adequado, rico em nutrientes para a planta e 2) umidade adequada, isto é, que o solo adquira elevado teor de água através de chuvas fracas e intermitentes. Estes fatores permitirão ao vegetal obter um bom desenvolvimento vegetativo, que se traduzirá em ótima floração. Portanto, chuvas regulares, fracas (para eficaz penetração no solo sem provocar erosão) e intermitentes (com alguns dias de sol intercalados) durante a fase que precede a florada são fatores muito favoráveis a uma rica secreção de néctar. Naturalmente um tempo excessivamente seco na pré-floração prejudicará a atividade do vegetal com reflexos posteriores na floração.
Durante a florada, propriamente, os fatores que influem na secreção do néctar são:
A) Temperatura: A temperatura elevada, geralmente, é fator favorável à secreção de néctar. A temperatura é mais importante na secreção do néctar até do que a própria luz ou a umidade do solo, porque torna mais permeável a membrana dos nectários, aumenta o poder solvente da água e acelera as reações químicas que se produzem no vegetal.
Conclusão: os dias quentes são os melhores para a produção de néctar; temperaturas excessivamente altas ou baixas são prejudiciais.
B) Umidade relativa: A umidade (proveniente de chuvas ou nevoeiros) aumenta a quantidade de néctar, mas esse aumento não tem valor, porquanto a quantidade de açúcar do néctar permanece praticamente a mesma; haverá apenas maior diluição do néctar.
Conclusão: a ação da umidade relativa na fase de floração, sobre o aumento da secreção de néctar, é real, mas ela não tem valor prático, porquanto apenas dá maior volume de água ao néctar.
C) Umidade do solo: Segundo vários autores a umidade do solo é um dos mais importantes fatores da eficiente secreção de néctar, bem como é importante para a condução dos alimentos da planta.
Conclusão: a umidade adequada do solo, diversamente da umidade relativa (isto é, do ar), é fator importantíssimo na secreção de néctar, podendo inclusive acarretar um decréscimo considerável na mesma, se for exagerada ou deficiente.
D) Chuvas: Já vimos que as chuvas, na época de pré-floração, são de grande importância, para assegurar ao vegetal um bom desenvolvimento vegetativo, que dará as reservas necessárias para eficiente floração. Os apicultores que já têm certa prática prevêem com boa margem de segurança a riqueza das grandes floradas pelas chuvas que caem no período de crescimento das plantas melíferas, isto é, no período antes da safra. No entanto, na época da safra (da floração), a chuva é incrivelmente prejudicial, não só à produção de néctar (influindo negativamente sobre a planta, devido ao aumento exagerado da umidade, o que acarreta baixa considerável da secreção, bem como lava o néctar) bem como a produção de mel, pois: I) as abelhas, com a chuva, não saem da colmeia para colher o néctar; II) as abelhas permanecendo na colmeia começam a consumir parte do mel já armazenado e III) as abelhas têm maior dificuldade para concentrar o mel, evaporando sua água.
Conclusão: as chuvas em plena florada são prejudiciais, à secreção de néctar e fortemente à produção de mel.
E) Luz : A influência da luz é relativa mais a sua duração que à sua intensidade. Isto é, dias mais longos proporcionam maiores secreções de néctar e também maiores colheitas.
F) Altitude: A altitude é um dos fatores de aumento da secreção de néctar, além de influir na qualidade do mel.
G) Vento: Os ventos úmidos, influindo sobre a umidade relativa do ar, aumentariam a secreção, e os ventos secos, baixando a umidade relativa do ar, diminuiriam a secreção de néctar, bem como a produção de mel. O aumento, no entanto, é sem valor, como já vimos.
H) Outros fatores: A secreção de néctar varia com a duração da florada e com o sexo das flores. Assim, a secreção é mais intensa no primeiro dia de abertura da florada e é mais fraca no último dia. Em algumas plantas as flores masculinas produzem 4 ou 6 vezes mais néctar que as femininas; em outras dá-se o contrário; parece que tal variação depende do tamanho dos nectários.
Em resumo concluímos que, para uma boa secreção nectarífera, permitindo elevada colheita de néctar, devemos ter: dias longos, de temperatura entre 26 e 30ºC, sem ventos ou chuvas.

Fontes de néctar e pólen

A maior parte do pólen e do néctar que são colhidos pelas abelhas, no Brasil provém de vegetações espontâneas; poucas são as plantas cultivadas de real valor para a apicultura nacional. A laranjeira é uma das felizes exceções, bem como o Eucalipto.
Os pastos sujos e as matas são as áreas mais importantes para a nossa apicultura. Quase sempre as plantas nectaríferas são poliníferas, embora a recíproca seja pouco verdadeira. No entanto as plantas quase sempre se destacam como eficientes fontes de néctar ou de pólen, raramente apresentando as duas características simultaneamente de forma intensiva exemplo: o eucalipto: pólen abundante e néctar abundantíssimo.