Doenças das abelhas
Numerosas são as enfermidades que atacam as abelhas, provocando-lhes grandes prejuízos. Entre essas citaremos as podridões da cria (americana e européia), a cria ensacada, a nosemose, a acariose, a paralisia e o mal-de-outono. Felizmente no Brasil não temos notícias de acariose (que nos andou rondando, no Uruguai e Argentina) nem da podridão-americana. Dessas enfermidades, as 3 primeiras atacam a cria; as demais atacam as abelhas adultas.
1) Acariose:
É provocada por um pequeníssimo carrapato (Acarapis woodi) que, alojando-se na traquéia das abelhas, obstrui-lhes a respiração provocando sua morte. Devido a isso as abelhas não podem voar e se arrastam no chão. Felizmente esta enfermidade não foi ainda observada no Brasil, embora nos tivesse andado rondando em 1958 (Uruguai e Argentina).
Tratamento: Solução de Hichard Frow, feita de nitrobenzeno, gasolina e óleo de safrol.
2) Paralisia:
O agente da doença é ainda desconhecido; admite-se que seja um vírus. As abelhas apresentam o abdome inchado; mau voam; as fezes são amareladas; o corpo todo treme e as asas fazem movimentos lentos; o corpo parece engordurado; a frente da colmeia fica cheia de abelhas moribundas.
Tratamento: Trocar a colmeia doente, de lugar com outra forte; substituir a rainha da colônia doente por outra resistente à doença.
3) Mal-de-outono:
Agente desconhecido. As abelhas inicialmente correm como loucas de um lado para outro da colmeia ou do chão até que secansam; daí para diante arrastam-se pelo chão até morrer. Essa doença, que talvez seja devida a envenenamento, desaparece repentinamente, donde até hoje não se ter determinado um tratamento eficaz.
4) Nosemose:
Provocada pelo protozoário (Nosema apis), que se aloja no intestino da abelha provocando graves distúrbios digestivos. principalmente diarréia, donde quase sempre o fundo da colmeia se apresenta bem sujo de fezes; as rainhas suspendem às vezes a postura e são substituídas pelas operárias (isto explica certas substituições inesperadas de algumas rainhas). O intestino, quando arrancado, mostra-se engrossado, sem constrições e de cor branco-turva e seu conteúdo, colocado sobre uma lâmina de vidro e diluído com um pouco d'água, toma uma cor de leite característica. Naturalmente o exame sob o microscópio revelará com exatidão se existem ou não protozoários causadores da doença.
Tratamento: É preventivo, antes que curativo (embora a fumagilina esteja sendo usada com sucesso). As colmeias sadias devem ser isoladas. Devem ser evitadas as águas paradas nas imediações do apiário, bem como os saques. Limpeza e desinfecção rigorosa das colmeias que alojaram abelhas doentes.
As doenças que atingem as abelhas adultas, entre nós não provocam geralmente perdas muito acentuadas (a acariose não foi ainda observada).
As doenças da cria nos Estados Unidos e Europa é que provocam os maiores danos, assim como entre nós.
5) P.A.C. = A.F.B = Podridão americana da cria:
É provocada por uma bactéria: (Bacilus larvei). É enfermidade seríssima, que devasta osapiários. Seu combate é radical: fogo. Felizmente não foi verificada no Brasil.
6) Cria ensacada:
Admite-se que seja produzida por vírus filtrável pois ainda não se conseguiu encontrar um microrganismo responsável; é infecciosa, porém de caráter benigno, não chegando a exterminar as colmeias; enfraquece no entanto a família prejudicando a produção. As laricas doentes, geralmente colocadas em células já fechadas, cujos opérculos se mostram furados, apresentam-se inicialmente de cor creme, passando mais tarde a marrom e até cinza; essas larvas se apresentam como que sentadas, no fundo da célula, com a cabeça sempre erguida: retiradas das células essas larvas saem inteiras e tornam a forma de um saco, donde o nome dado à doença; às vezes têm consistência muito mole. Esta doença, embora não muito grave senão em casos excepcionais, existe no Brasil e bem espalhada. Laidlaw, em 1954 e 1955, durante sua permanência no Brasil notou muitas vezes essa doença, embora em forma benigna, em apiários de São Paulo e no Rio. Geralmente não há cheiro, o qual se existe é igual ao de algo ácido, talvez mais devido ao apodrecimento da larva.
Tratamento: Não há um tratamento eficiente contra a cria-ensacada; quase sempre a doença desaparece com o início da florada; é natural que a seleção de rainhas resistentes à doença seja interessante; portanto, devem-se substituir as rainhas das colmeias doentes por filhas de outras que se tenham mantido completamente sadias.
7) P.E.C. = E.F.B. = Podridão européia da cria
Consoante trabalhos realizados por L. Bailey, em Rothamsted (Inglaterra) em 1959, a causa principal seria a bactéria (Streptococcus pluton), à qual se juntaria (Bacterium eurydice). É doença altamente contagiosa e que causa graves prejuízos às abelhas. embora não extinga a colmeia, senão em casos excepcionais. Nos nossos apiários temos sido rudemente atingidos por essa doença desde 1969. A época de maior incidência tem sido agosto.
Esta doença é a mais séria de todas que temos no Brasil e se encontra largamente espalhada. As abelhas pretas em geral são bem flageladas, mormente em colmeias fracas. Os apicultores em geral não notam a sua presença a não ser quando ele espírito já prevenido, porquanto as colmeias mais fortes suportam relativamente bem o ataque e recuperam-se mais ou menos rapidamente; isso porque, graças à grande atividade das abelhas limpadoras, eliminam prontamente as larvas doentes, foco de contaminação. Os reflexos no entanto são desastrosos sobre a colheita de néctar bem como sobre a produção de cria. E, naturalmente, se não se socorrem as colmeias mais fracas elas podem acabar se extinguindo.
No Setor de Apicultura o principal prejuízo foi causado às larvas enxertadas para produzir rainhas: desenvolviam-se normalmente até 4 ou 6 dias após a operculação (o que é interessante, pois as larvas de operárias atacadas são quase sempre as não operculadas); as larvas, que deveriam ficar na parte superior das células (correspondendo ao fundo da realeira) para alimentar-se com a geléia real, caíam na parte inferior (ponta da realeira) e ali morriam; algumas larvas ainda se desenvolviam um pouco mais, porém eram raras as que chegavam a começar a metamorfose em pupa: morriam antes disso. Os cadáveres, de coloração creme a princípio e de consistência mole, aquosa, tornavam-se pardos e, depois de apodrecerem, ficavam cinzas, exalando um cheiro ruim, azedo. Em outras ocasiões havia 100% de morte das larvas enxertadas. Dessa forma perde mos durante fins de 59 e princípio de 60 mais de 2.000 enxertias, sem conseguir debelar o mal, até que tornamos medidas drásticas: queima de todos os favos atacados; desinfecção de todo o material e instalações, com soda cáustica; renovação de todo o material para enxertia; aumento das alimentações com estreptomicina e terramicina; compra de novas rainhas reprodutoras.
Sintomas: O sinal mais evidente da doença é o aspecto "esburacado" cios favos, isto é, células operculadas e outras não, salteadas. devido à mortandade de larvas novas, ainda não operculadas; além disso, encontram-se larvas mortas de coloração amarelada ou parda e consistência aquosa; outras larvas se mostram de coloração amarela e secas, parecendo mais escamas de cera ou bolos de pólen. Em estados mais adiantados da doença pode-se notar um cheiro desagradável. azedo, de peixe estragado, talvez devido ao apodrecimento das larvas por infecções secundárias.
Tratamento: 1) Eliminação dos quadros atacados, os qauis não devem ser trocados para outras colmeias, pois espalhariam a doença; 2) União das famílias mais fracas.
A prevenção é o mais indicado. Para tal, 3 ou 4 semanas antes da época em que a doença aparece com mais vigor, dá-se alimentação de estreptomicina ou terramicina; 2 semanas após repete-se o tratamento. As rainhas amarelas costumam ser mais resistentes, porém há linhagens que são até mais fracas que as pretas. Julgamos que o ideal é, através de adequada anotação, distribuir pelos apiários as filhas das rainhas que se mostram mais resistentes à enfermidade nas crises mais fortes, não importando a cor. Junto remetemos um questionário que servirá de modelo ao apicultor, caso nos queira fazer consulta sobre qualquer doença que apareça no sen apiário. É favor remeter o questionário, segundo o modelo, preenchido com a maior correção possível juntamente com a amostra do material, obedecendo às instruções que se seguem:
Maneira correta de se enviar amostrars de cria para exame de laboratório:
- Corte um pedaço de favo de pelo menos 10 cm x 10 cm;
- Verifique que o pedaço contenha tanta cria morta ou descorada quanto possível;
- "Nenhum mel deve existir" e o favo não deve ser esmagado;
- Embale em uma caixa de madeira ou de papelão grosso. "Não use lata, vidro ou papel encerado";
- Ponha o questionário dentro da caixa.
Maneira correta de se enviar amostras de abelhas adultas para exame de laboratório:
- Selecione, se possível, as abelhas que estejam doentes ou então recentemente mortas;
- Envie pelo menos 50 abelhas de uma amostra; se o senhor suspeita que há envenenamento por inseticidas, envie 100 ou mais abelhas, para eficiente exame;
- Envie as abelhas, juntamente com o questionário, em uma caixa de madeira ou papelão grosso e "não em lata ou vidro".
Questionário para auxílio no diagnóstico de doenças em abelhas
1) A colméia está órfã?
2) A colméia está zanganeira?
3) A colméia está em lugar úmido?
4) A colméia está exposta a ventos fortes e frios?
5) O numero de abelhas é pequeno?
6) Foi ou está sendo atacada por inimigos. como formigas. traças-dos-favos, etc.?
7) Tem alimentação?
8) Estavam morrendo abelhas adultas?
9) Larvas?
10) Ninfas?
11) Quais os sintomas que as abelhas adultas apresentavam quando estavam morrendo?
12) Morriam abelhas novas? E velhas?
13) Aspecto geral dos quadros de cria:
a) Cria irregular?
b) Células operculadas abertas ou furadas?