As abelhas solitárias

A maioria das pessoas ao ouvir a palavra abelha imediatamente a associa a uma colméia e a produlção de mel, estando esta associação muito mais relacionada à abelha melífera ou européia (Apis mellifera) do que às abelhas indígenas sem ferrão [Meliponinae, por exemplo, Mandaçaia (Melipona quadrisfasciata) e Jataí (Tetragonisca angustula)].
Existem mais de 20.000 espécies descritas de abelhas. Dessas 85% são solitárias, 10% cleptoparasitas (abelhas com hábito solitário que utilizam células aprovisionadas por outras abelhas, normalmente solitárias, para realizarem postura) e apenas 5% apresentam algum grau de sociabilidade. As abelhas com sociabilidade bastante desenvolvida (por exemplo Apis mellifera e as abelhas indígenas sem ferrão) representam um grupo reduzido dentro desses 5%.
O comportamento solitário é caracterizado pela independência das fêmeas na construção e aprovisionamento de seus ninhos. Não há cooperação, ou divisão de trabalho, entre as fêmeas de uma mesma geração, ou entre mãe e filhas. Na maioria das vezes, a mãe morre antes de sua prole emergir, sem haver relações entre gerações diferentes.
Há uma grande diversificação de hábitos de nidificação entre as abelhas solitárias. Várias espécies da família Megachilidae, Anthophoridae e Apidae nidificam em ramos ocos de plantas ou orifícios preexistentes em madeira. Outras nidificam em cavidades no chão ou em barrancos ou em locais protegidos e poucas constroem ninhos expostos.
O ninho é aprovisionado com néctar e pólen, algumas espécies utilizam também óleo coletado em flores (por exemplo nas das plantas da família Malpighiaceae). A forma e disposição das células de cria é variada, podendo ser uma única célula no final de um canal, um aglomerado em um local protegido ou uma sequência linear de células, o número também varia, podendo ir de uma a mais de dez células por ninho.
O material de construção utilizado pode ser barro ou areia agregada com alguma substância (por exemplo óleo ou resina vegetal), folhas de plantas cuidadosamente cortadas e unidas com resina e, ou barro, resina pura, ou o local de cosntrução do ninho recebe apenas uma camada impermeabilizante (de natureza glandular) que evita que umidade chegue aos imaturos. Também existem espécies que não revestem o local de nidificação, permanecendo os imaturos em contato direto com as paredes do ninho.
Não há produção de mel por essas abelhas, pois a fêmea busca nas flores o néctar (fonte de energia) que necessita para ela e para o aprovisionamento do ninho. Várias espécies são sazonais, isto é, ocorram apenas em determinada época do ano, quando há suficiente disponibilidade de alimento e condições favoráveis à nidificação.
A reprodução de várias espécies vegetais depende diretamente da visita de abelhas solitárias à suas flores. Assim, algumas espécies dessas abelhas são utilizadas pelo homem para esse fim. Por exemplo no Brasil, utilizam-se espécies de Xylocopa (Anthophoridae) para a polinização do maracujá, são as chamadas mamangabas, mangabas, ou mamangavas, havendo outras denominações dependendo da região; contudo, esse nome é frequentemente dado a qualquer abelha de coloração escura e tamanho moderado. Outro exemplo é o uso de Megachile rotundada (Megachilidae) para polinização da alfafa nos EUA. Em ambos os casos, distribui-se locais para as abelhas nidificarem na área de cultivo e, ou espalha-se ninhos já fundados, porém ainda em fase de aprovisionamento das células pela fêmea, no campo.
McGregor (1976) ressalta que 1/3 da dieta humana depende, direta ou indiretamente da polinização por insetos e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostram que as abelhas proporcionam uma renda anual de 150 milhões de dólares em mel e 20 bilhões de dólares no aumento da produção agrícola, isso só nos Estados Unidos.